domingo, 23 de maio de 2010

"A Segunda Sem Lei"

Godoi era um menino simples, nascido e criado pelo punho forte e severo de sua mãe, chamada Bárbara Norma. Mãe que não perdoava qualquer vacilo, seja na mesa, na escola, na rua, ou em qualquer lugar. Até no banheiro, ela o ensinou a ter uma especial postura expelidora, para facilitar o ato de defecar. Também o ensinou a dobrar o papel higiênico, utilizando técnicas chinesas herdadas do pai, que consistem em não agredir as sagradas hemorróidas, segundo sua querida e rígida mamãe.

Toda essa pressão educacional transformou Godoi em um cadeado, trancado e silencioso. Ah! Esqueci de mencionar: seu pai era chinês e dono da única fábrica brasileira de pinicos, com várias lojas espalhadas pelo estado de Minas Gerais. O slogan era “agache e relaxe, seja grande ou nanico exija seu pinico”.

Seu pai morreu quando o garoto tinha 10 anos. O motivo, pasmem, foi um susto fulminante que o levou a uma parada cardíaca. Isso tudo aconteceu por causa de um filhote de pardal que, fazendo o seu impreciso e inexperiente primeiro vôo, caiu em seu prato, enquanto almoçava. A partir daí, Godoi se tornou um matador exímio de pardais, com requintes de grande crueldade. Depois de pegos, os pardais eram torturados e aleijados, até sobrar algumas penas de vida. O gran finale desse procedimento sanguinário era encher uma lata de farinha láctea com os pardais semimortos e escondê-la debaixo da roda do caminhão de seu vizinho. Então, era só esperar pela partida do truck, que não demorava muito. E o que restava era somente uma mistura de lata e carne prensada com penas, olhos, bicos e tripas com pedacinhos de ossos e um líquido, que compunha cores nunca antes vistas, e que borbulhavam, dando um efeito mais do que especial. Uma obra digna de qualquer exposição de necroarte moderna.

Godoi era um menino simples e solitário e, depois da morte de seu pai, se tornou um garoto bastante cruel. Aos olhos da mãe, um anjo sem asas. Com o desencarne do pai, a fábrica de pinicos não durou muito e logo toda a rede de lojas foi vendida para Dom Romão, um forte empresário no ramo de compra e venda de automóveis.

Godoi ficou sem pai, sem herói. O nome dele era Zhou Yong, do chinês significa barco corajoso. Foi através de um navio e corajosas aventuras que seu herói atravessou o mundo, ancorou no Brasil e veio parar aqui por essas bandas de Minas, onde encontrou sua esposa, Norminha, a severa mamãe de Godoi.

Godoi era um menino simples e solitário, que se tornou cruel, e que acabara de completar quinze anos.

Debutante, entrou na puberdade, e se tornou pecador aos olhos mais puritanos, pois conheceu a masturbação. Desde então, encontrou a paz em seu coração. Não queria saber mais de matar pardais, só queria “matar o seu passarinho”.

E, mesmo que quisesse matar pardais, não conseguiria, já que toda sua energia estava sendo consumida no banheiro, com um único, imponente e incansável passarinho. Incansável mesmo, de manhã ele já estava de pé, o chamando para mais uma investida. Isso sem contar que, durante a noite toda, esfolara seu passarinho no colchão, sonhos e mais sonhos molhados. Depois do almoço, antes do café, depois do café, antes e depois do jantar. Como era muito novo, não sabia dos riscos de morte que corria ao se masturbar depois das principais refeições do dia.
Esse era seu segredo, e sua mãe começou a perceber que havia algo de errado com o comportamento de seu anjinho. Todas as horas que ela o chamava, ele estava sabe onde? No banheiro ou no quarto, sempre com a porta trancada, pensando nas apresentadoras de programas infantis, ou acompanhado das revistinhas de produtos da Avon que sua mãe recebia, e ficava admirando somente aquela seção dedicada as peças de lingerie, com garotinhas em vários modelos de calcinha e sutiã.

Sua mãe já estava há alguns dias sem entender o que se passava com seu filhinho. Entrava e saía do banheiro, entrava e saía do quarto, procurando por algo que pudesse acabar de vez com sua agonia, pois não conseguia imaginar que seu anjinho estivesse passando por algum tipo de vício ou problema.

Mas o que Godoi sentia era a mais pura energia, explodindo seus músculos e expandindo sua mente, deixando sua perna bamba e suas vistas escuras. Seu coração batia dez vezes mais feliz no peito. Esse prazer que o deixava de boca aberta, babando, era sua droga, a mais sensível e perfeita droga: o gozo.

Quando os garotos solitários descobrem esse prazer, não querem mais largar, e, com Godoi, não foi diferente. As aulas começaram e, no primeiro dia, suas coleguinhas de sala estavam diferentes. Elas haviam se transformado em beldades felinas. Todas passaram por metamorfose durante as férias. Seriam garotas ou deusas exalando o cheiro da pele lisa, nova e virgem, em busca do primeiro amor? Seios, coxas, bundas, umbiguinhos de fora, saias, blusinhas e bermudas coladas. Tudo isso revelando formas antes não percebidas. Agora, essa era a realidade, e era impossível não percebê-la, inclusive, esse era o assunto principal na rodinha dos garotos no recreio.

Mas o grande acontecimento, a happy hour, a manchete do dia nas rodinhas masculinas era quando algum garoto conseguia ver a calcinha das meninas descuidadas e distraídas, que se esqueciam de fechar as pernas, ou quando, entre um botão e outro da blusa, seios rosados, firmes e doces podiam ser vistos, furtivamente. Era como achar um bilhete premiado da mega-sena. Os garotos ficavam horas discutindo, depois da aula, a cor da calcinha, o modelo, o tamanho, com ou sem rendinha. Deu pra ver algum cabelinho? E o biquinho do seio? É grande ou pequeno? Godoi, como sempre, via todo o alvoroço que se passava na escola, mas continuava o mesmo, sempre num canto quieto e calado. Mas, por dentro, estava louco para contar a sua grande descoberta, e para saber se alguém estava passando pelo mesmo romance que ele. Aquele romance onde ele era o cara e sua namorada, sua mão direita.

Na primeira aula, Godoi percebeu a presença de um novo aluno na classe, ficou sabendo que era repetente de longa data, pois já tinha 18 anos. De cara simpatizou-se com ele. Foi para casa pensando e torcendo para que Eric, seu novo colega repetente, se tornasse o seu primeiro, grande, fiel e confidente amigo.

Godoi conheceu um pouco do rock com o vizinho do lado esquerdo, que escutava música com o som no volume máximo. E só rolava rock. Graças ao seu vizinho conheceu as bandas de Seattle como Nirvana, Alice in Chains, Screaming Trees, Temple of The Dog, Soundgarden e, sua preferida, Pearl Jam. Adorava ouvir as baladas da banda, que tocavam intensamente seu coração, por isso, acabava montando um clipe romântico imaginário em sua cabeça, e ficava pensando como seria sua primeira namorada de verdade, loira ou morena? Mas ainda amava sua mão e tinha medo das garotas, por ser virgem e inexperiente.

No segundo dia de aula, Eric entrou na classe com uma camisa do Pearl Jam. Estava feita a conexão. Godoi e Eric conversaram o recreio inteiro sobre as bandas de Seattle e, principalmente, sobre o Pearl Jam, Alice in Chains e o Nirvana. Então, Eric o convidou para ir à sua casa conhecer sua coleção de discos.

Porém, Eric tinha uma “carta na manga” e o esperava ansioso. Quando Godoi chegou à sua casa, logo foi levado para ver todos os cds e vinis, coleções e raridades, todos de rock n´roll, e isso tudo fez abrir os horizontes sonoros da mente de Godoi. Todas aquelas bandas e toda a história do rock, ali, nacional e internacional, em sua frente, numa estante enorme.

Eric fez uma boa ação e emprestou alguns discos para ele. Só isso, já garantiria sua felicidade pelo resto da semana, mas, como você já sabe, Eric tinha uma grande “carta na manga” e esse momento mágico tinha chegado. Eric disse: “Godoi, abra esse armário e pegue todos os discos que estão aí, acho que você vai gostar deles”. Eric fez questão de prestar muita atenção no exato momento em que Godoi abriu o armário, já que ele não imaginava o que estava lhe aguardando. Então quando as “portas da esperança” foram abertas, Godoi teve uma surpresa, misturada com susto, que o fez deixar todos os discos que estavam em sua mão caírem. Não acreditava no que estava vendo. Revistas e mais revistas de mulher pelada.

Além de uma coleção de discos de dar inveja, Eric possuía um acervo imenso da Playboy. Na verdade, tudo era de seu pai, mas Eric sempre falava para os colegas que era dele, e seu pai ficava muito satisfeito por suas revistas e seus discos serem apreciados e cuidados pelo filho. Godoi não agüentou e caiu no chão também. Enquanto isso, Eric rolava no chão de tanto rir, e disse que ele poderia escolher quantas revistas quisesse para levar para casa, contanto que não colasse as páginas, e nem deixasse sua mãe pegá-las, senão estaria “fodido”. E Godoi, ainda meio sem fala e com o corpo tremendo, perguntou: “Como assim colar as páginas? E como você sabe que o que eu quero te contar tem tudo haver com estas revistas?”.

“É cara, todo homem passa por isso, uns mais cedo, outros mais tarde, uns com mais intensidade e outros com menos. Mas, o mais importante a saber, é que chegará o momento em que sua mão não terá tanta graça e prazer quanto uma mulher de verdade. E colar as páginas significa gozar na revista, pois a porra funciona como uma cola, depois que seca. Não faça isso, senão te mato”, respondeu Eric.

Godoi, ainda meio sem graça diante de seu colega experiente, escolheu algumas revistas, pegou os discos que já estavam separados, colocou tudo dentro da sua mochila, disse adeus e se distanciou da Meca do rock e das mulheres. Foi para casa pensando no que Eric disse. Sua mão já não era a mesma, e sua curiosidade em penetrar uma mulher aumentava a cada dia, ainda mais vendo tantas mulheres, lindas e gostosas, como aquelas que estavam na Playboy. Todas nuas e todas de Godoi. Só que nenhuma era em “3D”, quer dizer, nenhuma estava “deitada dando devagar”, em sua cama, ensinando tudo a ele, com muito carinho.

Godoi chegou à sua casa e, quando sua mãe abriu a porta, percebeu que o filho estava meio esquisito. Sabe aquele pressentimento que toda mãe tem e que, na maioria das vezes, não falha? Então, Norminha tinha certeza que havia alguma coisa errada, mas deixou que o filho entrasse, sem perguntar nada, e fingiu que não tinha notado. Godoi ainda meio sem jeito, e sem saber onde colocar a mochila cheia de mulheres, pensou e concluiu que toda coisa boa e pervertida sempre traz algum problema. Onde iria esconder todas essas mulheres sem que sua rígida mãe percebesse?

Godói, nesse momento, analisou e buscou todas as alternativas que sua casa oferecia para esconder o harém, mas gostaria mesmo era de ter um cofre ou um esconderijo secreto, tipo o Batman. Não tendo outra saída, levou a mochila para o banheiro, pois tinha certeza que sua mente funcionaria melhor depois que escolhesse uma daquelas damas da revista para lhe despir antes do banho.

Que emoção! Será a primeira vez de Godoi com uma revista dedicada exclusivamente a masturbação. Respirou fundo e não perdeu tempo, sua mão direita tremia e balançava seu caralho, cada vez mais depressa, enquanto a mão esquerda, com muita agilidade, folheava as páginas, buscando novas poses sensuais da garota escolhida. Era um trabalho rítmico, percussivo e emotivamente sonoro. Se tivéssemos condições de gravar, com um super microfone, o som das duas mãos trabalhando, na revista e no pinto, com certeza Godoi desbancaria o Tom Zé, em originalidade e ousadia.

Sua mãe, percebendo a demora do seu pimpolho, passou em frente ao banheiro e escutou alguns gemidos que pareciam ser do seu filho, aliás, só podiam ser do seu filhinho. Por muita coincidência, e pela lei de Murphy que diz que “se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará”, sua mãe estava em frente a porta do banheiro, no exato momento em que ocorria a explosão de espermatozóides de Godoi. Com certeza, ouviu seus gemidos e o barulho de coisas caindo no chão. Sem saber o que estava acontecendo lá dentro, sua mãe começou a esmurrar a porta berrando o nome do filho, já imaginando o pior. Godoi estava caído no chão ainda sem forças, sem camisa, de tênis e com as calças arriadas, não sabia o que fazer e não acreditava no que estava acontecendo. Parecia que os murros que sua mãe aplicava na porta estavam sendo desferidos em sua cabeça, e o seu nome, em gritos, cortava sua alma. Godoi respondia, dizendo que estava bem, mas sua mãe não parava de bater e de gritar. Godoi teria que ser rápido e encontrar uma solução logo, senão sua mãe derrubaria a porta e descobriria tudo.

Godoi olhou para o vaso e teve uma idéia. Escondeu todas as revistas dentro do cesto de roupa suja, arrumou e limpou tudo, bem rapidamente, e abriu a porta. Sua mãe entrou como um raio, perguntando o que tinha acontecido e por que ele tinha demorado a destrancar a porta.

Godoi, apavorado, explicou para sua mãe que iria fazer cocô, antes de entrar no banho, mas, como estava muito cansado, acabou pegando no sono, dormiu e teve um pesadelo. Só acordou quando já estava no chão, com todas as coisas que ele tinha derrubado. “Demorei a abrir a porta, porque estava mais pra lá do que pra cá, muito desnorteado”, disse o anjinho, para a mamãe. Mas ela, ainda meio desconfiada, perguntou: “E os gemidos?” Sua idéia era absurda, era tudo ou nada. E respondeu: “Mãe do céu, estava sendo esquartejado por Freddy Krueger, no meu pesadelo, foi horrível. Queria gritar e pedir ajuda, mas minha voz não saía, conseguia apenas gemer de tanta dor e desespero. Graças a Deus, caí no chão, pois, só assim, consegui acordar e me livrar daquele terrível e demoníaco personagem. Nunca mais assistirei a filmes de terror de madrugada, mamãe!”.

Sua mãe ainda esboçou certa desconfiança, depois de ouvir toda a explicação de Godoi para os fatos ocorridos dentro do banheiro. Porém, Norma respirou fundo, analisou mais uma vez, com um olhar clínico, todo o “local do crime”, e percebeu que tudo o que foi dito pelo seu filho fazia muito sentido. Coisa de mãe. Conclusão: Norminha estava mais calma, acabou engolindo toda a lorota de quinta categoria que seu querido filho destilara e saiu do banheiro. Godoi trancou a porta novamente e tomou o melhor banho de sua vida. Depois desse dia, passou a ser muito mais precavido e cauteloso em suas aventuras ejaculantes. O fim de semana foi inesquecível para Godoi, nunca tinha namorado tantas garotas, cada revista um novo romance, regado com o mais puro rock n’ roll.

A semana começou empolgante. Durante o recreio, Godoi contou para Eric todo o seu drama, vivido no banheiro e como conseguiu contornar aquela situação, que colocou em risco parte da maravilhosa coleção de revistas do seu amigo. “Cara, você tem muita sorte! Pois, se acontecesse alguma coisa com as minhas revistas, com certeza, você estaria morto”, disse Eric, ainda muito nervoso, mas aliviado com o desfecho positivo da saga do vacilão no banheiro. Logo depois da conversa, Godoi devolveu as revistas e os discos, que estavam dentro de uma sacola de plástico preta, para Eric. Pediu desculpas e disse que isso nunca mais aconteceria novamente.

Um silêncio pairou no ar. Quarenta e sete segundos de silêncio. Silêncio que só foi quebrado pela pergunta de Godoi: “Posso passar na sua casa para pegar mais revistas e discos?” Eric estava tomando refrigerante e não agüentou. Cuspiu todo o líquido engasgado e começou a rir e tossir, rir e tossir, dizendo: “Ssse-e-e-eu-eu pun-hehehe-tei-i-iro”! Godoi não conseguiu se conter, tanto ria que a barriga começou a doer e o ar a lhe faltar. Os dois caíram no chão chorando de tanto rir, um olhava para o outro, e o riso aumentava mais ainda, as lágrimas desciam brindando e refrescando a pureza e a força dessa amizade, incompreendida pelos olhares tortos dos colegas que estavam no pátio.

Bate o último sinal, a aula da segundona acabou e ficou combinado: Godoi estará na casa de Eric, às dezesseis horas, o motivo vocês já sabem! Porém, Godoi, mais uma vez, não imagina o que o aguarda. Eric já tinha planejado tudo e contava com uma ajudinha muito especial.

Godoi almoçou e tirou um cochilo ouvindo baixinho “Love At First Sting”, do Scorpions. A trilha sonora criava um ambiente perfeito para sua imaginação ansiosa por sexo e diversão com as novas garotas de papel que iria buscar. De repente, um silêncio tomou conta do seu quarto, o disco já tinha acabado fazia um bom tempo, levantou desesperado procurando saber as horas, olhou para o relógio e não conteve sua alegria em saber que não tinha perdido a hora marcada, faltavam trinta minutos para o encontro na casa de Eric. Tomou um banho, trocou de roupa e partiu com o coração acelerado.

Rua do Sufoco, número 51, bairro Saco Roxo. Casa de Eric. Dezesseis horas, no prego. Mais uma vez estava diante da Meca do rock e das mulheres, quase ajoelhou. Tocou a campainha, e nada. Começou a suar. Tocou mais uma vez e esperou. Nada! Começou a esmurrar a porta, chamando Eric. Nada adiantou. “Puta merda! Não acredito que o Eric me deixou na mão!”, disse Godoi, já dando as costas para a porta, indo embora, puto da vida, chutando uma latinha de cerveja que estava jogada na rua. O barulho da lata encobriu o barulho da chave, abrindo a porta. Godoi, então, escuta uma voz bem conhecida: “E aí meu irmão? Você quer mesmo ir embora?” – dizia Eric, em um tom bem humorado. Godoi pediu perdão para a latinha, voltou correndo, agradecendo a Deus e entrou na casa de Eric, com o maior sorriso do mundo.

A casa de Eric estava bastante silenciosa, Godoi notou que a empregada não estava trabalhando hoje e, com certeza, poderia folhear as revistas tranquilamente, sem qualquer medo ou pudor de chegar alguém no quarto. Mas Godoi estranhou seguir Eric para a cozinha. O dono da casa abriu a geladeira, pegou uma cerveja e disse: “Vamos comemorar! Meus pais estão viajando e a empregada está de folga!”. Encheu bem os copos e bradou: “Raraú Rarafá! Deus é pai e nos ajude!”. E então brindaram! Eric virou o copo inteirinho, na maior classe, mas não sabia que Godoi nunca tinha bebido uma gota de cerveja ou qualquer outra bebida alcoólica que fosse. Godoi estava contagiado pelo momento de euforia do colega e pelo disco “Blood Sugar Sex Magik”, do Red Hot Chili Peppers, que começara a tocar no talo, dando um toque especial na celebração de liberdade dos jovens. Toda essa energia contagiante contribuiu para que Godoi virasse o copo de cerveja, com mais vontade do que nunca. Sentir o gosto da liberdade, um puta disco rolando, revistas de mulher pelada aos montes e seu primeiro copo de cerveja, geladasso, estraçalhado numa tarde de segunda-feira. Isso tudo era muito surreal para um menino simples, como Godoi. Eles então proclamaram esse dia como sendo a “Segunda Sem Lei”.

A primeira garrafa de cerveja acabou, e Eric percebeu que teria de agir logo, pois o brilho nos olhos de Godoi estava radiante. Logo, concluiu que ele não era forte para bebida. Então disse para Godoi ir ao seu quarto, pegar uma caixa de cerveja em lata que estava escondida dentro do seu guarda roupa, para gelar. Godoi deu uma cambaleadinha e começou a caminhar até o quarto. Eric ficou de espreita. Godoi abriu a primeira porta do guarda roupa e nada. Abriu a segunda, e nada de cerveja. Meio zonzo, resolveu sentar na cama e tomar um fôlego. Respirou fundo e abriu a terceira. Seu coração saltou de sessenta para cento e cinqüenta batimentos por minuto, começou a esfregar os olhos, pois não acreditava no que estava vendo. Achou que a causa de sua alucinação fosse alguma droga colocada na bebida, por Eric. Mas não era. Era real tudo aquilo que estava se movimentando e saindo do guarda roupa. Uma linda morena de olhos verdes, vestindo uma lingerie branca, que realçava ainda mais seu corpo bronzeado e sua pele perfumada. Ela se aproximou de Godoi, bem devagar, e ajoelhou no chão entre suas pernas dizendo: “Sou toda sua, sei que sou a primeira, por isso, irei te levar para um lugar muito especial, confie em mim. Agora quero que se levante!”. Nesse momento, Eric, que estava de butuca, fechou e trancou a porta do seu quarto. Godoi estava muito nervoso, mas a cerveja lhe deu a coragem de que precisava e ficou de pé. A garota, ainda de joelhos, começou a se mover, ficou de quatro, roçando nas pernas de Godoi, como uma gata pedindo carinho. Godoi estava excitadíssimo e de repente ela parou. Ela ainda estava de joelhos, mas, com seu lindo rosto, na altura do seu pênis. E, com as mãos para trás, a morenassa desabotoou a calça e baixou o zíper de Godoi usando apenas os dentes. A felina se levantou lentamente e ficou face a face com sua vítima e disse: “Meu nome é Estela, quero que você me abrace, me acaricie, e me beije, tudo bem devagar”. Godoi começou a suar e a tremer, mas seu instinto masculino falou mais alto e, então, começou a deslizar sua mão vagarosamente pelo corpo daquela que seria sua primeira mulher. Sua mão tímida sentiu toda suavidade e delicadeza daquela flor, sentiu a doçura que brotava dos lábios daquela mulher, sentiu no olhar daquela felina toda beleza de viver, sentiu nas curvas perigosas daquele corpo, um tesão inigualável em ser macho, agora era só ela e ele, era só Godoi e Estela, entre quatro paredes. Estela era a harmonia do seu nome. Estela era a suavidade em amar. Estela era a calma em ensinar. Estela era céu, era mar, mar seguro, onde Godoi podia mergulhar sem ter medo de ir fundo e não voltar, sem ter vontade de nunca mais ter que, numa terra firme, pisar. Godoi era deserto. Estela era mar.

Depois de uma hora e meia no quarto, Godoi teve que colocar os pés no chão, e pedir para Eric abrir a porta. Godoi torceu para que a porta nunca mais abrisse, mas não foi assim, a porta abriu, levando sua doce Estela, lindamente vestida, que o beijou e se foi. Sentiu algo estranho no peito, sentiu uma dor que ele já conhecia, sentiu um vazio silencioso, que era seu café da manhã todos os dias. Godoi se lembrou do pai, queria contar para ele tudo o que sentiu naquele tarde, naquele quarto, logo que chegasse em casa, queria ter o seu grande amigo de volta para lhe dizer que conhecia o sabor de uma mulher de verdade.

Eric, de fogo, surge no quarto gritando: “Yeeeaaahhhhhhhh, você não é mais virgem! Você não é mais virgem! Você não é mais virgem! Vamos comemorar!”. Godoi desperta da saudade do pai, e ri bastante. Os dois saem do quarto, na maior alegria, e vão para a cozinha tomar mais uma cerveja. O ex-virgem ajoelha aos pés de Eric e o agradece por tudo. Com certeza esse foi o dia mais feliz na vida dele. Afinal de contas, não é todo mundo que tem a sorte e o privilégio de perder a virgindade com uma garota experiente, tão linda, tão gostosa e tão paciente em lecionar a matéria que não sai da cabeça da maioria dos homens, a disciplina saborosa do sexo. Godoi descreveu o que havia acontecido naquele quarto, com tanta riqueza de detalhes, que Eric começou a ficar excitado. Godoi não se conteve e perguntou: “Como você conheceu Estela?”. E Eric respondeu: “Estela é minha prima”. Godoi ficou congelado com a notícia e ficou mudo. Eric disse: “Relaxa, meu irmão, ela é safadinha, e sua fantasia sexual é tirar a virgindade de garotos, como você”.

Godoi não sabia o que fazer, e Eric, percebendo o seu constrangimento, recitou uma trova caipira que seu avô repetia sempre: “O céu tem muita estrela, tem grandes e miudinhas, o mundo tem muita moça, tem feias e bonitinhas. Nóis vamô fazê um negócio, as feia é sua, as bonita é minha.” Godoi riu a beça, então Eric apertou o play do controle e começou a tocar “Had to Cry Today” do “Blind Faith”, primeira música do disco, que tem na capa uma ruivinha, com os peitinhos de fora, segurando um avião que mais parece um vibrador do futuro. Imagine essa capa sendo lançada em 1969, polêmica na certa. Os dois amigos tomaram a saideira, esplendidamente contentes, contemplando a beleza do disco e daquele fim de tarde, naquela “Segunda Sem Lei”, inesquecível, na Rua do Sufoco.

Godoi emocionado agradeceu mais uma vez, dando um abraço forte em Eric e disse adeus, levando cinco discos para sua casa e nenhuma revista. Graças a Eric, sua mão poderia descansar, pelo menos por enquanto, visto que outra festinha já estava marcada para acontecer, só que agora teria Estela e suas amigas.

Eric fechou a porta, caminhou até a cozinha assoviando a melodia de “Little Wing” do “Hendrix”, abriu a geladeira, pegou uma “long neck” e foi para o quarto bebendo a cerveja no bico. Dentro do quarto, Eric olhou para o espelho na parede, sorriu e, cuidadosamente, o colocou em cima da cama. Atrás do espelho havia uma câmera, ele apertou o stop e foi para o computador armazenar as imagens da primeira transa de Godoi. Ah! Sabe por que Eric demorou a abrir a porta para Godoi? Ele transou com Estela primeiro.

Maio/2010
Drixs

8 comentários:

  1. Hahaahahahaha...
    que corete!..

    divertido seu blog, Drixs.
    Massa!
    Keep writing...

    bração

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Otimo !

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  3. Boa Drix... seu texto realmente tem uma ótima narrativa regada com roquenróu!!

    valeram os 10 minutos.

    grande abraço!

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  4. Gostei muito do conto. Blood Sugar realmente é uma trilha boa para esta estória. Continue escrevendo, eu me diverti muito.

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  5. Que bom que vocês gostaram! Muito obrigado mesmo! Já estou pensando no próximo! Grande abraço para vocês! Drixs.

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  6. OLÁ! ADRIANO, INFELIZMENTE, SÓ HOJE PUDE LER SEU CONTO... FANTÁSTICO! ADOREI! PARABÉNS! SE ESSA FOI A SUA PRIMEIRA VIAGEM AO FANTÁSTICO "MUNDO DAS LETRAS", NÃO PERCA TEMPO E NÃO DESANIME, POIS VC FAZ PARTE, CERTAMENTE, DESSE MUNDO CRIATIVO, INFINITO E IMPERFEITO DAS LETRAS!!! ABRAÇOS, ANA PATRÍCIA PIERONI

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  7. Dri, parabéns pelo conto! Fico orgulhosa de ver sua enorme criatividade expressada na literatura, além da música. Sou admiradora de tudo o que você faz, admiro a sua dedicação, seu empenho, seu esforço em dar sempre o melhor de si, em todos os seus projetos. Espero vê-lo crescer sempre mais, curtir de novo, ao seu lado, cada etapa de suas novas criações. Beijos com amor.

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  8. que isso! muito bom mesmo! chorei de rir aqui! abraços

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