quinta-feira, 31 de março de 2011

SALA DE TESTE

Na Sala de Teste a inércia e o silêncio me agridem.
O ponteiro do relógio não me agrada e
vai tic-teste-tic-triste-tic-peste que não chega ao fim.
Cadeiras nubladas, pálidas e sufocantes,
com cérebros de várias formas, elétricos, gritando, calculando e 
escrevendo respostas certas ou erradas,
para os testes que toda semana ditam o futuro desses corações aflitos
que nunca amaram de verdade,
que nunca sentiram a lâmina profunda da dor rasgando o peito,
que vivem imersos na doce ilusão da juventude.
Nesse túmulo imenso e frio, inexisto, entro em transe profundo.
Nessa península silenciosa e distante do mundo,
busco o horizonte.
Na Sala de teste, o mais testado sou eu.

ADRIANO MENDONÇA CARDOSO
DRIXS

quarta-feira, 30 de março de 2011

DEMOCRACIA PRIVADA

Políticos com salário maior que o do Presidente,
quando é que vocês vão trabalhar pra gente?
Sentados aí chocando ovo,
sempre pensando em algo pra enganar o povo,
prometem, prometem e não fazem nada,
o suor de vocês vem é da privada.

ADRIANO MENDONÇA CARDOSO
DRIXS

quinta-feira, 24 de março de 2011

SAMBA DO CORAÇÃO RASGADO

Vai, rasga meu coração mais uma vez,
faça meu sangue brotar pois você sabe que sou seu freguês
e não vou te abandonar apesar da sua insensatez.
Mas se quiser ir embora, pode ir.
Pois sei que amanhã você baterá em minha porta outra vez,
dizendo que sou seu amor, sua paz, seu burguês
e triste sorrindo, abro-te a porta do meu coração cortês.
Você brinca com fogo pra me queimar,
põe na cama os cacos de vidro pra eu deitar,
me esnoba e finge que não me vê dentro do meu próprio lar,
pois sabe que da matéria, você é a obra-prima que me faz viver.
O que sofro com você, há quem diga que é expiação,
outros dizem que é prova de libertação,
também falam que é resgate mas a verdade é que sem você sou joalheiro sem jóia,
minha nêga 18 quilates.
Sem você, sou viciado na nóia,
sou cão sem dono que late,
minha pérola negra.
Mas se um dia ela não voltar,
por favor seu ouvinte, por favor seu leitor,
prefiro que me mate.

ADRIANO MENDONÇA CARDOSO
DRIXS

sábado, 19 de março de 2011

POLÍTICOS PODRES

Minha simplicidade não é cega, muito menos muda. 
Todos somos diferentes, classes diferentes, línguas diferentes, mentes diferentes. 
Mas a justiça não é igual pra gente. 
Trabalho doente pra chegar no fim do mês e o salário não me dá validez,
com essa merreca dá pra ficar louco de vez. 

Minoria safada e ganha a vida.
Maioria sofrida, sem trabalho e sem comida.

Várias promessas e muito blá blá blá,
quero ver você no meu lugar.
Vou roubar seu terno e sua gravata,
você pode ficar com a minha enxada,
daqui a pouco, com as mãos calejadas,
vai me dizer que a vida não vale nada.
Mas calma você não é homem?
Você não sabe o que é passar fome?
Engole tanta coisa e nem sabe o que come.

Minoria safada e ganha a vida.
Maioria sofrida, sem trabalho e sem comida. 

ADRIANO MENDONÇA CARDOSO
DRIXS

quinta-feira, 10 de março de 2011

AQUI JAZ, ALI DOR

Não sei se será seu todo o meu amor.
Não sei se o que lhe direi, trará dor.
Mas o tempo conserta o que ficou sem conserto.
A alma sente quando só existe medo e solidão.
E o efeito do amor acaba, como quem toma um veneno.
Tudo passa...
Deus me encha de amor novamente,
faça brotar a semente,
pois preciso alimentar muita gente com o amor que um dia perdi,
quando você não entendeu o que eu queria de ti...

ADRIANO MENDONÇA CARDOSO
DRIXS

quarta-feira, 9 de março de 2011

OBRIGADO

Obrigado pela satisfação,
pela resposta,
pelo abandono.

Obrigado pelo carinho,
pelo respeito,
pelo corte profundo no pescoço.

Obrigado pelo convite,
pelo desdenho,
pelo aborto fácil.

Obrigado pelo email,
pela visita,
pela roupa fúnebre.

Obrigado pela ditadura,
pelo tempo jogado fora,
pela voz sufocada.

Obrigado pelas mãos cortadas,
pelo silêncio das tardes,
pela válvula quebrada,

Obrigado pelo falante calado,
pelo caos das idéias.
pelo cemitério.

Obrigado pelo fuzilamento,
pela câmara de gás,
pelo sonho dilacerado.

ADRIANO MENDONÇA CARDOSO
DRIXS