sábado, 11 de dezembro de 2010

RIMA POBRE

Minha rima é pobre, escrevo para os pardais que sobrevivem de migalhas,
sempre na espreita, a espera de mais.
Minha rima é cobre, dos metais, esse condensa a cachaça, que se bebe quase de graça pelos irmãos de alquimia.

Minha rima só é nobre para os cegos, para os iletrados que pós-graduam no amor das coisas simples, para as Marias e os Joaquims de pés rachados e dedos cortados, calejados de trabalho e de luta, felizes pelos estômagos cheios e sorridentes dos filhos.

Minha rima é cofre, esconde a jóia dos olhares de navalha, moldados em sistemas, regras e fórmulas para humanos robóticos, que não sentem o perfume do esterco, que nunca experimentam o pinicar do milho na colheita, que não escutam a microfonia punk-hipnotizante do carro de boi, que não enxergam a beleza na enxada e a arte genuína em calejar os dedos.

Minha rima atrai varejeiras, vermes e ratos.
Esse trio funesto me entende.
Minha rima compõe e eles a decompõem.

Minha rima sofre ao ver tanta gente diplomada sem estrada.
Sem a sabedoria e a doçura dos matutos.
Almas nobres. Almas legítimas. Almas imortais. Almas animais.
Criadores de uma língua tão pura que os bichos entendem.
Para esses doutorados no mato, minha rima ilumina.
Para esses violeiros da roça, minha rima canta.
Para essas pessoas nobres do campo, minha rima nasce rica.


ADRIANO MENDONÇA CARDOSO
DRIXS


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